Nunca tinha lido nada da canadense Margaret Atwood, mas faz um bom tempo que sei de sua ótima reputação entre os críticos, especialmente por sua obra mais elogiada, O Assassino Cego, incluído na lista dos 100 Melhores Livros em Língua Inglesa do século 20, elaborada pela revista Time. Para corrigir essa falha, resolvi comprar A Vida Antes do Homem (editora Rocco), único título assinado por ela que encontrei numa livraria no último mês de janeiro. A sinopse parecia interessante, sobre desgastadas e frustradas relações humanas, soando bastante atual.
Com uma autora de tanto prestígio nas mãos, não era para eu me surpreender, mas foi o que aconteceu: sua prosa elegante e fluida, com capítulos curtos porém recheados de reflexões ou reviravoltas fortes, me fisgou de cara.
A Vida Antes do Homem se concentra em três personagens principais, entre outros secundários igualmente importantes, cujas vidas são afetadas por uma monotonia e infelicidade alarmante, algo que nos faz pensar no mundo moderno de uma maneira genérica. Impossível não associar muita gente que conhecemos por aí com Elisabeth, Lesjo e Nate. Pessoas que vão se decepcionando com o casamento, que tiveram uma infância castrada por parentes de um amargor quase patológico, ou que vivem num mundo próprio, construído pela falta de coragem e timidez excessiva. Tudo isso está presente no material de Margaret Atwood.
A escritora prefere deixar na obra algumas lacunas para nos fazer pensar, as resoluções (ou falta delas) estão além da última página. A abordagem ao universo feminino é bastante acentuado aqui (curioso eu recomendar num blog masculino, eu sei, rs), pois Nate, marido de Elisabeth e posterior amante de Lesjo, embora seja um personagem bastante tridimensional, é usado como “pretexto” para desconstruir a identidade das mulheres, ambas com criações e objetivos diferentes, e com frustrações e destinos semelhantes. São elas os principais objetos de estudo no romance.
No fundo, seriam todas as mulheres iguais? Atwood parece querer dizer “sim”, mas só a partir do dia em que um homem se instala na vida delas. O romance se desenrola na “longínqua” década de 70, um jeito de evidenciar que as coisas não se alteram com o passar das gerações. Vale dizer que, sem as datas apontadas, poderíamos facilmente pensar que a trama se passa na atualidade. As mulheres e os homens de outrora agem tal qual as mulheres e os homens do presente. Eles também têm os mesmos tipos de problema.
Às vezes me pergunto se a depressão e o estresse com o qual convivemos só foi acentuado de uns tempos pra cá ou se sempre esteve lá (ou melhor, aqui), com a mesma intensidade, e só agora nos damos conta dele. O apego de Lesjo ao passado, simbolizado pelos dinossauros do museu onde trabalha, é um modo de compensar a angústia e monotonia cada vez mais crescente com suas perspectivas.
A Vida Antes do Homem é, em especial, um livro sobre a incomunicabilidade, o atrito entre as pessoas, escrito magnificamente por uma autora segura de si e dos mundos e habitantes que inventa. Recomendadíssimo!
Excelente sugestão Pierre!
ResponderExcluirAnoitei a dica!
Abraços e ótimo FDS!
Senhor do Século | Beleza para Homens |
Anote mesmo, Dimas, essa autora é muito boa! Um dos grandes nomes da literatura mundial.
ExcluirAbração e desde já uma ótima semana.
Pierre:
ResponderExcluirDias de leituras interessantes sempre são bem-vindas.
Abraços e lindo fim de semana.
Se quiser, eu lhe empresto. É muito bom mesmo!
ExcluirAbraço e boa semana, Edilson.
Gosto muito de ler Pierre. Vou ver se consigo esse livro em BH. Aqui eu não acharei, com certeza.
ResponderExcluirAbraços
Ele nem é um lançamento, deve ter uns 3 anos, Margot. Mas não é difícil de achar. Na internet, vc o encontra a partir de 26 reais (joguei no Buscapé), dê uma olhadinha aqui.
ExcluirObrigado pela visita, Margot, e boa leitura
=)