1 de abr. de 2013

DICA DE FILME: A Caça, de Thomas Vinterberg


Mais ou menos 20 anos atrás, o motorista e os donos de uma escola infantil de São Paulo chamada Escola Base tiveram suas vidas arruinadas por conta de um escândalo sexual que virou exemplo de como a mídia pode julgar e condenar inocentes sem ouvir os dois lados da moeda. Na esfera jurídica, nada foi provado, as crianças admitiram a farsa, contudo o estrago já havia sido feito: os três envolvidos já tinham sido massacrados por órgãos de imprensa, como rede Globo, Folha de S.Paulo, Estadão, entre outros (hoje, indenizações milionárias ainda estão sendo discutidas), a escola fora depredada e pichada pela população. Enfim, um pesadelo.

Em A Caça, o dinamarquês Thomas Vinterberg nos apresenta um cenário similar: um professor de escola infantil, vivido pelo sempre impecável Mads Mikkelsen (de Depois do Casamento e O Amante da Rainha), é injustamente alvo de um escândalo de pedofilia, e o filme trata de acompanhar o desenlace de tudo o que isso aporta aos personagens da trama. A Caça, contudo, não apenas cutuca a ferida, também a faz sangrar.

Tudo acontece a partir da “mentirinha” de uma aluna. A pequena Karla, com cerca de 6 anos, se tanto, tem uma espécie de “paixão platônica”, uma admiração pela figura alta e masculina de Lucas, seu professor, e tenta se aproximar o tempo todo (coisa perfeitamente natural, é comum até entre os meninos terem esse tipo de atração pelas professoras da escolinha, não é mesmo?). Mas Lucas coloca os pingos nos is da maneira mais pedagógica possível, a menina não quer saber e, meio perturbada com imagens pornográficas que seu irmão mais velho lhe mostrou num tablet, começa a inventar histórias para a diretora da escola, assim como não quer nada, na inocência de que não sabe o que poderia vir a seguir. Tudo isso na primeira meia hora de projeção!

Mas o que Vinterberg faz a partir daí é assustador. Ele esfrega cruelmente no nariz do público fatos que levam a outros, uma mente impressionável de uma criança originando um erro que toma proporções irreversíveis, sobretudo pela mente perversa dos adultos. O que A Caça acentua é o modo irracional com que os já crescidinhos pegam um dos lados da história como verdade, transformando-se em bestas sedentas de sangue. Vinterberg joga tinta forte nas conseqüências, constrói cenas de fúria cega em torno de seu personagem central, que, mesmo inocentado por falta de provas, não consegue mais tocar uma vida normal.

Essas histórias de abuso sexual vêm se tornando cada vez mais frequentes, infelizmente há muita gente má intencionada por trás de certos casos, tanto que médicos se recusam a atender mulheres e crianças sem a presença de uma enfermeira; professores homens em escolas infantis são cada vez mais raros. E a barbaridade da sociedade não faz diminuir esse medo. O dinamarquês Vinterberg, um dos idealizadores do movimento Dogma95, já havia tocado nesse ponto (com outro tipo de abordagem, claro) no excelente Festa de Família, em meados dos anos 90, fez filmes menores depois, como Dogma do Amor e Querida Wendy, até se redimir com essa obra impressionante e perturbadora que é A Caça.

Em cartaz no Brasil.

4 comentários:

  1. Nossa, uma história surpreendente.
    Adoro esse estilo de filme, embora ultimamente esteja numa pegada mais "terror"
    Abraços!

    Senhor do Século | Beleza para homens


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    1. Esse é realmente um dos melhores do ano passado, merece uma conferida. É perturbador, mas propõe uma discussão e tanto.
      Abração, querido.

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  2. aqui no rs, esta fazendo um friozinho otimo para ver filmes, shshsshsh fiquei com mais vontade de assistir, http://vaidosoonline.blogspot.com.br/

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    1. Friozinho é ÓTIMO pra fazer um monte de coisas, e uma delas é assistir a bons filmes. Coloca esse na sua lista de "must see", hein? Que é excelente.
      Abração, Joel, e boa semana.

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