29 de out. de 2013

DICA DE FILME: O Passado (2013), de Asghar Farhadi


Muita gente está torcendo pela a indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro no ano que vem para o iraniano O Passado, de Asghar Farhadi, o mesmo de À Procura de Elly e A Separação, ambos consagradíssimos em Berlim. Desta vez, Faradhi rodou na França, com Bérénice Bejo num papel muito elogiado, premiado no último Festival de Cannes. Essa breve apresentação dos louros recém-colhidos serve apenas para reforçar a importância que a filmografia desse grande autor iraniano vem ganhando no cinema mundial da atualidade.

Com O Passado, Farhadi mostra que conseguiu de novo: fez um trabalho sério, denso e psicologicamente complexo. Se em sua obra anterior ele se propôs a analisar com minúcias a destruição de um casamento e de como isso afeta não apenas os cônjuges como também a filha do casal, aqui ele coloca o espectador perante uma separação sob um novo ponto de vista: os personagens de Bérénice e Ali Mosaffa já estão separados há algum tempo; este último sai do Irã e desembarca na França apenas para assinar o divórcio. Aproveita, porém, para matar saudade das filhas de sua ex-companheira, com quem não teve herdeiros. Em consequência, interfere nos pequenos problemas que as meninas, sobretudo a mais velha, têm com relação ao novo namorado da mãe.

É nesse conflito entre a enteada mais velha e o atual companheiro da mãe que surge o personagem de Tahar Rahim (protagonista do excelente O Profeta), que a princípio surge como uma espécie de antagonista e, pouco a pouco, vai mostrando um lado humano, conquistando a confiança e simpatia do público, mesmo quando parece extremamente rígido com seu pequeno filho, Fouad, outro personagem infantil complexo que vai sendo “domado” por meio da presença apaziguadora de Mosaffa (sim, mesmo este último, teoricamente, não ter mais nada a ver com a família que deixou na França, é ele quem vai transformando todos os envolvidos da história).

Impressionante como Farhadi é mestre em realizar esse tipo de reveses em suas tramas. Tanto Bérénice quanto Rahim são antipáticos aos nossos olhares na primeira metade da fita e, quando menos esperamos, seus comportamentos um tanto radicais ou explosivos vão nos parecendo mais compreensíveis, aceitáveis. Pequenas surpresas vão também sendo reveladas, num clima de suspense, e uma tentativa frustrada de suicídio da mãe de Fouad, ainda casada com Rahim, constantemente mencionada, serve como outro tema de impacto. Farhadi adora surpreender o público!

O final enigmático, outra marca-registrada na obra do diretor, encerra com maestria essa pequeno grande filme, radiografia veemente de muitas famílias modernas, aquelas que vão conservando laços irreversíveis, mesmo depois de separações (traumáticas ou não), e da França diversificada de hoje, marcada pela crescente imigração de asiáticos e africanos. Na sequência final, cheia de doçura e delicadeza, existe aquela sensação de esperança, mas também de que aquilo que precisava ser feito e que estava ao alcance de todos já fora perpretado. O passado, portanto, fica pra trás, o que importa é o presente.

O Passado estreia em 19 de dezembro nos cinemas do Brasil.

2 comentários:

  1. Interessantíssimo ... aliás tudo o q o cinema Iraniano produz atualmente tem sido de alto nível ...

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    1. Sou fã do cinema iraniano há tempos, Bratz, de Kiarostami a Makhmalbaf, vejo tudo que posso de lá. E esse diretor, Asghar Farhadi, vem mostrando que tem cacife para ser lembrado como um dos grandes autores do cinema mundial.
      Obrigado pela visita, ótima quinta, querido!
      :)

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